Eugenio Scalfari/Foto: Flickr
International Journalism Festival (CC-BY-SA-2.0) |
O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe.
Federico Lombardi, desmentiu rotundamente que tenha sido realizada uma nova
“entrevista” ao Papa Francisco por parte do diretor do jornal de esquerda
italiano La Repubblica, Eugenio Scalfari -publicada neste dia 13 de julho- na
qual se atribui ao Santo Padre afirmações como dois por cento dos sacerdotes
são pedófilos e que entre eles haveriam bispos e cardeais.
“Não
se pode e não se deve, portanto, falar de algum modo de uma entrevista, no
sentido habitual do termo, como se fosse uma série de perguntas e respostas que
refletem fielmente e com certeza o pensamento exato do interlocutor”, disse o
Pe. Lombardi em uma declaração divulgada depois da publicação da nota ontem.
Como
se recorda, Scalfari, um importante jornalista de 90 anos que se declara ateu,
conversou no dia 24 de setembro do ano passado com o Santo Padre e publicou uma
nota a respeito em 1º de outubro. Este texto provocou más interpretações na
imprensa internacional, por isso o Pe. Lombardi teve que advertir que nesse
encontro o jornalista “não gravou a sua entrevista com o Papa Francisco e
também não anotou, por isso o texto foi uma reconstrução depois dos fatos".
Com
efeito, um mês depois dessa publicação e em um evento da imprensa estrangeira
em Roma, Scalfari explicou que “é de verdade possível” que algumas das palavras
que atribuiu ao Papa “não fossem compartilhadas pelo Pontífice mesmo”. Explicou
também que, em geral, não grava suas entrevistas nem anota: “trato de entender
a pessoa que estou entrevistando e depois escrevo suas respostas com as minhas
próprias palavras”.
Nesse
sentido, sobre a “entrevista” publicada ontem, Scalfari recorda que é a
terceira vez que se encontra com o Papa e afirma que “nossos encontros foram
desejados pelo Papa Francisco, porque, entre as tantas pessoas de todas as
condições sociais, de todas as fés, de todas as idades que ele encontra no seu
apostolado cotidiano, ele também desejava trocar ideias e sentimentos com um
não crente. O papa considera que uma conversa com um não crente do gênero é
reciprocamente estimulante e, por isso, quer continuá-la; digo isso porque foi
ele quem me disse. O fato de eu também ser jornalista não o interessa
especificamente; eu poderia ser engenheiro, professor ou operário”.
Na
nota publicada ontem em La Repubblica, Scalfari escreve que o Santo Padre teria
lhe dito que está decidido a encontrar “soluções” para o problema do celibato
sacerdotal e que “há bispos e cardeais entre os 2 por cento de pedófilos que
são sacerdotes”.
Com
relação a isso, o Pe. Lombardi assinala que “como anteriormente e em
circunstâncias semelhantes, é necessário salientar que o que Scalfari atribui
ao Papa, referindo entre aspas as suas palavras, é fruto da sua memória de
jornalista especialista, mas não de transcrição exata de uma gravação e muito
menos de revisão por parte do interessado, a quem as afirmações são atribuídas”.
“Há
duas afirmações que atraíram muita atenção e que, pelo contrário, não se devem
atribuir ao Papa, ou seja, que entre os pedófilos existam ‘cardeais’ e que o
Papa tenha afirmado com certeza, a propósito do celibato, ‘encontrarei as
soluções’”, precisa o Pe. Lombardi.
A nota
publicada ontem tem como título “Come Gesú, useró Il bastone contro i preti
pedofili (Como Jesus, usarei o bastão contra os sacerdotes pedófilos)”, uma
frase que não se encontra em nenhum lugar da “entrevista”, mas Scalfari teria
“deduzido” a partir de uma afirmação do Papa na qual haveria dito que vai
enfrentar a “lepra da pedofilia na Igreja” e que “Jesus
amava a todos, inclusive os pecadores que Ele queria redimir mediante o perdão
e a misericórdia, mas quando usava o bastão, empunhava-o para expulsar o
demônio que tinha se apossado daquela alma”.
O Pe.
Lombardi questiona também que em algumas afirmações referidas ao celibato,
“curiosamente as aspas são abertas antes, mas depois não estão fechadas.
Simplesmente faltam as aspas de fechamento... Esquecimento ou reconhecimento
explícito de que está sendo feita uma manipulação para os leitores
ingênuos?".
Uma
destas afirmações, atribuídas ao Pontífice, diz assim: “Muitos dos meus
colaboradores que lutam comigo me asseguram com dados confiáveis que avaliam a
pedofilia dentro da Igreja em nível de 2%. Esse dado deveria me tranquilizar,
mas devo lhe dizer que realmente não me tranquiliza. Pelo contrário, eu o
considero gravíssimo. Os 2% de pedófilos são sacerdotes e até bispos e
cardeais. E outros, ainda mais numerosos, sabem, mas se calam, punem, mas sem
dizer-me o motivo. Eu acho insustentável esse estado de coisas, e a minha
intenção é enfrentá-lo com a severidade que exige…
Outra
das afirmações sem aspas de fechamento é a seguinte: “Talvez você não saiba que
o celibato foi estabelecido no século X, isto é, 900 anos depois da morte de
nosso Senhor. A Igreja católica oriental tem a faculdade, desde já, de que os
seus presbíteros se casem. O problema certamente existe, mas não é de grande
entidade. É preciso tempo, mas as soluções existem, e eu as encontrarei…
Quando
Scalfari pergunta se pode haver misericórdia para quem se arrepende no último
momento depois de uma vida de pecado, o Papa teria respondido que “é verdade, essa é a
nossa doutrina e é o caminho que Cristo nos ensinou”. Ante a pergunta do
jornalista sobre se o arrependimento for só interessado, por causa do temor ao
que possa acontecer depois, o Santo Padre teria dito que “Nós não julgamos, mas
o Senhor sabe e julga. A sua misericórdia é infinita, mas nunca cairá em uma
armadilha. Se o arrependimento não é autêntico, a misericórdia não pode exercer
o seu papel de redenção”.
Scalfari
escreve depois que o Papa Francisco se refere ao que deveria ser a família e
atualmente não é: “a família deveria ser o sacrário onde a criança e depois o
adolescente são amorosamente educados no bem, animados em um crescimento
estimulado para construir a própria personalidade e encontrar-se com a de seus
companheiros. Brincar juntos, estudar juntos, conhecer o mundo e a vida juntos.
Isto, com seus companheiros. Mas com seus pais, que o trouxeram para o mundo ou
lhe viram chegar ao mundo, a relação é como a de cultivar uma flor, um jardim
de flores, protegendo-o quando há tempo ruim, desinfetando-o de parasitas,
contando-lhes as fábulas da vida e, à medida que o tempo passa, sua realidade”.
“As
famílias parecem ter desertado da educação tal como nós a entendemos. Cada qual
se dedica aos seus interesses pessoais, frequentemente para assegurar à família
um nível de vida suportável, às vezes para perseguir o êxito pessoal, outras
vezes por amizades e amores alternativos. A educação como a principal tarefa com
os filhos parece ter fugido dos lares. Este fenômeno é uma muito grave
omissão”, prossegue.
A máfia
A
conversação à qual se refere Scalfari também se refere ao tema da máfia. O Papa
teria questionado à maioria das esposas, mães ou irmãs de mafiosos que
frequentam a igreja: “Essas mulheres pensam que Deus perdoa os horríveis crimes
dos seus parentes?”.
O
Santo Padre teria comentado deste modo que “na Argentina há os delinquentes, os
ladrões, os assassinos, mas não as máfias. É esse aspecto que eu gostaria
examinar, e vou fazer isso lendo os muitos livros que foram escritos a respeito
e os muitos testemunhos”.
Francisco
teria lamentado depois a atitude de alguns sacerdotes, que “tendem a passar por
cima do fenômeno mafioso. Naturalmente, condenam os crimes individuais, honram
as vítimas, ajudam como podem as suas famílias, mas a denúncia pública e
constante das máfias é rara”.
Na
“entrevista” se recorda logo o caso recente de uma procissão na região italiana
da Calábria, onde os que levavam uma imagem da Virgem se inclinaram em
reverência ao passar pela casa de um mafioso local, o que gerou depois a
indignação do Bispo de Oppido Mamertina-Palmi, Dom Francesco Milito, que
decidiu suspender todas as procissões como reação à complacência da confraria e
o clero local.
“Tudo
isso está mudando e vai mudar. A nossa denúncia das máfias não será feita de
vez em quando, mas será constante. Pedofilia, máfia: a Igreja, o povo de Deus,
os sacerdotes, as comunidades, dentre outras tarefas, terão essas duas questões
muito principais”, teria dito o Papa na “entrevista” com o jornalista italiano
Scalfari, desmentida formalmente pelo Vaticano.
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Fonte: ACI Digital
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